sexta-feira, 20 de maio de 2011

Tia Clô






A tarde era ensolarada mas fresca para se caminhar, o que convidava para um passeio pelas ruas da vizinhança.
Mama queria mais do que isso e me convidou para achegarmos até a casa da tia CLô.
O caminho era longo mas com poucas subidas, o que o tornava fácil e prazeroso.
Naquela tarde, dei o braço para a mama e juntas seguimos para o que seria nossa viagem.
As ruas começaram a ser cortadas,e o cominho atrás cada vez mais construído por nossos pés,que freneticamente, mas compassadamente alcançavam novos pedaços de chão.
O museu estava à nossa frente e teríamos que atravessar todo seu jardim o que seria uma aventura pitoresca.
Entre escadarias,árvores e estatuas,íamos comentando a respeito de cada uma delas: sobre o chafariz, os espinhos,  o carrinho de algodão doce,o castelo em que toda nossa história estava portada.
Nossa alegria era muita, porque em breve estaríamos na casa da nossa querida tia.
Depois de horas andando e saboreando as alamedas, chegamos à esquina da rua que queríamos. Larguei os braços suados da mama e corri para me postar em frente à casa da tia. Toquei a campainha e esperei ela abrir.
Não tinha outra forma, ela abriu os braços se abaixou para me alcançar e me envolveu com ternura. Mama chegou logo depois disso e recebeu os mesmos agrados.
Mama e ela ficavam tanto tempo conversando: riam,choravam,gargalhavam e eu lá na sala não entendia suas conversas, mas sabia que estavam felizes juntas e me deliciava com aquela segurança familiar. Depois de muitos tra-la-lás,a Tia Clô colocava água para ferver ,e de lá saia um cheirinho delicioso de café.A mesa bem posta, acompanhava : o leite,pão, queijo e doces em compotas que ela adorava improvisar.
Nunca precisaram me chamar, como uma abelha que segue em busca do néctar das flores, eu zumzumbiava até a mesa e me sentava com as perninhas ainda soltas no ar.
-“Uma caneca enorme para a Evinha mergulhar o pão e uma posta de doce de abobora e banana”. Não via mais nada,eu estava imergida naqueles acepipes tão adorados por minha criança gulosa.
Tia Clô me ensinava a desenhar enquanto tagarelava com a mama e, eu com aqueles lápis coloridos e papeis branquinhos, dava meus primeiros rabiscos como traços de arte moderna. Uma futura “Tarsila do Amaral “
Com os braços sempre abertos, com o sorriso sempre largo, com a casa sempre ensolarada, passávamos algumas tardes assim.
Quando a tardinha tomava conta do dia,vinham também as despedidas.Um grande abraço apertado para timbrar a marca do amor ali encontrado.Voltávamos de braços dados pelo mesmo caminho traçado.
Mama e eu virávamos em silencio, com a alma leve e a felicidade banhando nossos corações.
Minha infância foi cercada por pequenos gestos que demonstraram que eu era importante para essa tia.
Tias,tios,bisa e pais que fizeram da minha experiência terrestre um palco de alegria,segurança,felicidade e amor.
Todos deveriam ter por certeza, uma tia chamada CLÔ.

5 comentários:

  1. Evinha,também tive uma tia querida assim,era a tia Josefina,de olhos azuis,cabelos compridos e preso como coque,fala mansa e meia encurvada.Doce e meiga,sempre pronta para me escutar e sempre tionha um presentinho quando eu a ia visitar.Minha tia querida,assim como sua tia Clô.Me deu saudades.Gostei tanto desse seu texto,acho que vou fazer um para minha tia também rsrsr.Bjos Marilia_b.lima@hotmail.com

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  2. evinha,erro meu.Não é hotmail é yahoo.O do hotmail eu não uso mais.Qualquer coisa escreva para esse endereço.bjos

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  3. Filha, que texto lindo e fiel! Exatamente assim........ Por isso tenho muitas saudades.

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  4. Oh que ternura! Que texto gostoso Evinha. Fiquei pensando no início se era um conto, porque tava sendo contado tao bonitinho, como sempre, Eva, vc me emociona!

    E vem cá, sua mae que escreveu ali em cima??? Que lindo... ou foi a tia Clô??

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  5. Mama....que lindo...amei que escreveu...eu também tenho muitas saudades daquela época.....

    Nina...sim foi a mama que escreveu,ela é muito arteira hehehehe

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