quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

São Pedro

Durante minhas caminhadas pelas manhãs na cidade em que costumava morar, tentava buscar lugares onde a vegetação fosse mais abundante para me sentir no campo.

Mas o que encontrava,era um denso mato ladeando um córrego pedregoso com água turva e poluída.
Sem outra opção, caminhava por essa trilha e conseguia ver de cada matinho uma flor em potencial.
Um dia a passeio, vim a São Pedro e o que vi mudou por inteiro minha vida.Mudei.
As noites de estrelas me faziam perder o fôlego porque o brilho e a nitidez eram de fazer os olhos se perderem no espaço. A lua enorme, tingida de vermelho, vinha nos contemplar por momentos que se tornaram inimagináveis.
Pelas manhãs, caminhava por ruas de terra onde a natureza ainda se conservava viva ,cheia de colorido e perfume. As árvores altas que se amontoavam nos picos das montanhas, as flores de campo espalhadas nas calçadas e terrenos vazios, os pássaros de uma variedade incrivelmente bela e de canto peculiar, o sol mostrando todo seu esplendor, me davam a certeza de que eu fizera a escolha correta.
Ao entardecer, começava outro tipo de movimentação nas pacatas ruas de São Pedro. Eram os moradores que após um dia de trabalho no campo ou cidade, tiravam suas cadeiras do quintal e colocavam nas calçadas para prosearem com os amigos e vizinhos. As conversas seguiam noite adentro até que depois de muitos “uais”, o povo se recolhia para dormir até o canto do galo.
Uma cidade onde as pessoas costumavam se cumprimentar mesmo nunca tendo sido apresentadas. Onde era comum encontrar amigos que conversavam sem pressa, sem medo, sorrindo e se abraçando.Onde o dono do único cinema na cidade, não se acanhava em vender pipoca e entregar o pedido no acento da sala, o garçom te recebia pelo nome,o jardineiro da vizinha se sentava ao seu lado no banco da praça,sua palavra valia tanto quanto um documento assinado, onde todos se encontravam em diferentes tarefas, conviviam como um pedaço isolado do mundo, mas com as portas abertas para idas e vindas.
Difícil era não se apaixonar por essa cidade, com cachoeiras espalhadas nas montanhas altas que permitiam aos exploradores dos céus a voarem como pássaros em busca do vento.
Fiquei por aqui, e hoje aproveito muito do que ficou.
A vida é mais lenta e o progresso não desnudou nossas características. A aculturação vem transformando lentamente nossos costumes por causa das diferentes regiões que os novos habitantes tem origem, mas aqui ainda é o melhor lugar para se estar, viver e poder sonhar.
Quando toda mudança acontecer, espero estar em outro espaço assim valioso, onde tudo o que aprendi a respeitar e a ter aqui, seja uma constante na vida de todos que forem para lá.

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