sábado, 31 de julho de 2010

O engraçado não pode ser trágico...





Estava num período difícil. Meu filho Ricardo tinha sofrido um acidente fatal há apenas quinze dias e tentava seguir com a vida.
Secava meus cabelos no banheiro quando escutei batidas no quarto dele. Desliguei o aparelho para escutar melhor.
Nada aconteceu e voltei ao que fazia. Em seguida o barulho recomeçou e continuou de uma forma espaçada.
Não havia ninguém em casa. Meus caçulas estavam fora estudando, como faziam todas as noites.
Com medo, e vencida pela curiosidade, avancei para o quarto parcialmente escuro, e do batente da porta espiei para dentro, esperando que fosse um engano e que os ruidos viessem de fora.
Encostei na parede,  decidida a ficar até que o som voltasse ou parasse definitivamente.
Ele recomeçou forte, e vinha de dentro do armário do meu filho.
A porta do guarda-roupa, através das pancadas de dentro para fora, abria com algum esforço, mas voltava a fechar. As brechas eram pequenas.
Agora, grudada na parede, paralisada com a boca aberta, tentava dar um grito que não ousou sair. Meu corpo todo tremia, mas queria ficar e ver o que acontecia.
Meu filho Ricardo estava tentando manter contato comigo, mostrando alguma coisa que ficara dentro do seu armário, ou um contato de algum grau que nunca escutei falar.Mas o que?
Logo após esse meu pensamento, a porta deu uma abertura maior.
Não conseguia me preparar para esse encontro. Acredito que estava prestes a enfartar,quando olhando para a porta entre aberta,  vi meu gato Chiquinho enroscado nas roupas tentando sair de dentro do guarda-roupa, atordoado  pelas tentativas frustradas.
Então era ele o motivo de todo aquele barulho. Alguém o esqueceu lá dentro, provavelmente eu quando fui arrumar as roupas do meu filho.
Quando me olhei no espelho, meu rosto, estava desfigurado. O medo foi tanto que minha boca estava roxa escura , meu rosto branco e em volta dos meu olhos preto.
Isso foi um susto ainda maior, que me fez largar tudo e sair  correndo e só parar depois que estava bem longe de casa  e junto com  uma amiga refiz toda comédia.
Ri da minha cara, do meu medo, da cena, do gato, e da fraqueza que vi em mim, ri do que o Ricardo estaria pensando da mãe dele naquele momento, ri da parte cômica da minha tragédia.
Durante vários dias, ainda tremia por tal experiência. O medo do desconhecido.
Hoje relembro com certa vontade de que de lá não tivesse saído o gato... Quem me dera!

Um comentário:

  1. Nossa Eva!!! Que história!!! Sempre temos medo do desconhecido!!! Que pena que foi um gato!!! haha Bjos!!!

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