terça-feira, 10 de agosto de 2010

Água e vinho





Saí de mim.
Levantei como um lençol ao ser jogado aberto em cima de uma cama. Leve e pronta para partir.
Senti o aroma das flores como há muito não me permitia mais, a vibração dos corações dos homens que estremeciam as ruas, parques, alamedas e avenidas. Senti os ruídos comuns das águas em correntezas, as risadas autenticas das crianças no jardim, o entardecer cheio de esperança e o colorido em volta da vida que criei.
Vi pessoas que desciam as ladeiras em trajes lânguidos,em bando ,cantando ao por do sol.Eram os retirantes.
Vi donzelas e princesas observando o arrebol, com seus laços cor de rosa e lilás.
Vi nessas diferenças ,uma forma prática de um relacionamento quimico e cientifico, como a união da água e o vinho.A possibilidade da dissolução para uma nova solução.
O canteiro tinha flores novas. Que lindas, que cheirosas, nem as tinha percebido.
Indaguei-me sobre a cegueira de não ver tamanha beleza.Indaguei-me sobre os meus apegos tão rasos, meus sonhos escassos , o desconforto pelos ingratos e pela falta da tal crença que se tornou lenda pelo esquecimento e desprendimento do espiritual.
Os milênios estão sendo abertos. As horas serão extintas .O Alfa deu inicio a uma fase em que não existirá o ômega.O universo se movimenta,não há mais espaço para desesperança.
Saí de mim e percebi que tudo é uma transformação. O imutável é um ponto de vista, o degradado um aprendiz, a miséria uma chance, o sofrimento um conhecimento profundo das nossas limitações e possibilidades de vencê-las.
Por que não ter a posse e o gozo de alguma coisa que não se pode alienar? (vida) Por que deixar de correr ou lançar de mim esse viço que busca a energização para uma constante evolução?
Olhei novamente para mim, tirei o pó que me cobria a alma, enxuguei as águas que me afogavam, e desatei o nó que me prendia.
Sem pedir licença, voltei a me habitar, Agora muito mais densa, com vontade de despedir um brilho sem fim.
Como um talento no meio do centavo, como um raio na escuridão da noite, como o canto do galo, que na madrugada ecoa solitário esperando o amanhecer.






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