A calcinha azul

Não era apenas uma calcinha daquelas que você coloca no fundo da gaveta para usar a qualquer hora. Era feita de um fino material transparente, suave e com pequenas rendas, dando um toque feminino a peça toda azul. O lacinho na frente, completava aquele presente único e diferente do meu universo feminino, limitado a casa, crianças e filhos.

A caixa, que continha o pequeno mimo, era rosa com fios metálicos dourados, formando uma silhueta feminina indefinida, fazendo com que os olhos percorressem os outros cinco lados a procura das partes que faltavam.Peguei o presente meio encabulada, porque pensei que fosse uma brincadeira de moças.
Estava na sala de aula e minhas colegas eram todas jovenzinhas.

Olhavam-me normalmente como se o presente fosse apropriado.

Não tinha como, coloquei a calcinha na cabeça (era o único lugar cabível) e desfilei pela sala.

Assoviaram, gritaram e riram muito, mas o que diziam eram palavras de entusiasmo e não de deboche. Por fim, percebi que o presente era uma forma de demonstrar o modo como me enxergavam; apta a brindar a vida sexual com sucesso.

Voltei para casa feliz e cheia de amor próprio.

Nunca usei aquela pequena peça, Coloquei o talismã como um adorno, num cabide que tenho atrás da porta, junto com bolsas de melindrosas que coleciono. A calcinha azul me despertou para um lado quase esquecido. Trouxe-me um ar de juventude, felicidade e vida que sinto perder com o passar dos dias. Lembra-me que sou mulher e sempre terei espaço para fazer uso de acessórios femininos, não importando a idade que esteja vivendo. Serei uma eterna JANE, MULHER GATO,JENNIFER ANISTON,quando descuidadamente parar meus olhos  naquela linda peça azul.