quinta-feira, 8 de julho de 2010

não vou retornar


Montei um quadro de fotos, e me perdi nessa série ininterrupta e eterna de instantes ,tentando traçar um caminho para poder reviver um passado. Toquei as mesmas músicas na vitrola, acendi candelabros com velas enormes para prolongar a noite, fechei as janelas para não deixar o sol entrar, sentei na poltrona e esperei você chegar.

As lágrimas querem participar desse festival retrô,e repetem a mesma cena das primeiras folhas que você sujou.
No compasso certo dão uma pausa, para depois do adágio, num vibrante e forte soluço, deixar o choro entremear a melodia.

Preciso deixar você ir, mas estou presa ao passado, às imagens, aos sons e ao aroma, bastando uma brisa suave trazer um toque familiar, e já não estou mais aqui.
As notas desse chorinho estão decoradas, mas a repetição parece uma constante em minha vida, me trazendo sempre as mesmas emoções e não mudando em nada as atitudes do meu coração.

Preciso deixar você partir, sair das minhas lembranças, abrir as portas do salão, alvejar as cortinas do palco ,colocar uma nova música na grafonola,chamar um poeta e permitir que um poema surja, novo, pela primeira vez.

Como se fosse fácil, guardei todas as fotos numa canastra envelhecida e coloquei os discos no buffet da sala de jantar, apaguei as velas e as coloquei na sepultura que fiz para enterrar tudo o que me remete a você. Vou esperar o sol brilhar, abrir as portas e tentar voar. Se o terreno estiver seco, não vou pousar, nunca mais vou retornar.

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