quinta-feira, 29 de julho de 2010

Zona morta




Adormeci na zona morta, quando me permiti deslizar no nada por algum tempo e quase cai no buraco negro. O lugar onde ficam aqueles que desistiram de lutar, criar e acontecer. Onde ficam os esquecidos ou aqueles que se fizeram esquecer. Os que não se importam mais em distribuir amor, porque não querem também receber. Os que não cantam mais, porque a alegria acabou. Os que não acreditam na força da vida e no poder da esperança. Todos aqueles que não querem ficar na superfície onde a labuta é diária e viver é uma conquista.
Lembranças são ricas e fazem bem ao coração desde que não vivamos delas. Não posso mais perder tempo paralisada dentro dos meus pensamentos, enquanto a vida corre por todos os lados. Sinto que já perdi mais uma vez o caminho, mas posso tentar alcançá-lo.
O tempo tem a velocidade da minha vontade. Se viver intensamente, ele corre ao meu lado,quando desligo,ele passa lentamente como se me esperasse acordar.
Consigo sentir sua batida em segundos através dos compassos musicais... Cada segundo um som, cada minuto sessenta notas, e depois de uma hora, uma sinfonia foi composta.
Mas preciso sair do meu marasmo, não esperar mais o inicio de um novo compasso. Posso criar um contratempo e começar agora mesmo.
O tic-tac do relógio me confunde com os sons das notas que toco. Acho que estou indo devagar demais, preciso de um arranjo musical, talvez uma partitura nova, cujas folhas ainda não foram escritas.
Perdi meu maestro. Deixei-o partir. Sentia-me uma virtuose, capaz de teclar com perfeição minha própria música. Acabei saindo da tonalidade desejada, entrei fora do tempo, desafinei e quis aposentar meu instrumento, procurando por outro mais fácil onde não precisasse me aprofundar num esforço repetitivo.
Não compus nenhuma obra digna de ser executada,apenas alguns garranchos que não me fizeram mais feliz.
Preciso participar de uma orquestra, preciso de um grande regente, preciso me deixar levar por essa música doce que teima em me tocar a alma, que como um elo me puxa para fora do abismo negro. Preciso fechar minha caixa de música que só me traz recordações, e sintonizar novamente a melodia que me fará reascender para a vida.

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