domingo, 2 de setembro de 2012

Um brinquedo






Não era uma noite comum. A família estava reunida na casa da nonna,para uma celebração vespertina, onde brindaríamos a mais um ano.
A ansiedade fazia parte do meu temperamento normal, portanto o fato de saber que ganharia um presente, não alterou o meu modo de esperar. Frenética, buliçosa, espevitada. Todos os sinônimos não poderiam qualificar-me, era necessário a criação de alguns deles mais.
Estava sentada no chão de costas para todos que conversavam animadamente, sem despertarem nenhum interesse em mim. Fui surpreendida por um chamado:_ Eva! Alguém gritou e quando me virei para atender o chamado, vi ali na minha frente,Ele,o tão querido, amado e esperado fogãozinho,com o butijãozinho de gás,e um monte de panelinhas penduradas na sua tampa ,que ficavam suspensas acima dos bocais do fogão.
Perdi a fala, o sorriso, quase que a respiração. Joguei-me para abraçá-lo e o beijei até doer a boca.
A noite era curta demais para brincar .Queria preparar bolinhos,arroz ,feijão,ovo frito,macarrão,mas o papai já me chamava porque precisavamos  ir embora.
Não tínhamos carro e o caminho para o ponto de ônibus era longo. A noite tinha sido chuvosa, e não teríamos como levar a caixa grande com o meu presente.
Tive que deixá-lo guardado num cantinho e a promessa às pressas feita por papai, de que no dia seguinte viria buscar.
Choramingar também fazia parte do meu temperamento. Caçula mimada, não gostava de ser contrariada, a não ser quando o chinelo aparecia para dar uma olá, então eu ficava muito boazinha e até me oferecia para ajudar.
A noite longa custou a terminar e acordada ficava a pensar nos dias maravilhosos que teria brincando com meu fogãozinho de metal.
Papai acordou cansado e foi empurrando sua ida até à tardinha, quando por certo cansou de me escutar pedir e chorar e desceu a rua ,rumo ao ponto de ônibus e de lá,muitos passos depois, chegar à casa da noninha, onde meu tesouro esperava por um resgate.
Depois de horas sentada na escada em frente de casa, vi papai chegando com passos cansados, abraçado numa caixa que parecia ainda maior. Colocou-a na sala e sentou-se para descansar.
Armei minha cozinha, coloquei as bonecas em guarda, peguei caixas e caixinhas e as usei como armário e mesa.
Depois de tudo pronto, uma estranha sensação tomou conta de mim. Guardei tudo no meu baú de brinquedos e fui dormir.
Estava muito cansada de tanta ansiedade.
Os dias que se seguiram, foram cheios de comidinhas caseiras. Cada hora era um prato diferente.
Um dia,  resolvi dar um toque mais real a cena e coloquei velas dentro do forno para aquecer a comida. Foi um caos. As panelinhas que tinham os cabinhos de plásticos derreteram, as bocas do fogão não eram resistentes e tudo virou um amontoado de ferro velho.
Chorei por dias.
Numa manhã ensolarada, apareceu um presente novinho no quarto. Era outro fogãozinho, mas todo de plástico e bem menor. Nunca mais tive um como o primeiro, mas grandes tardes de brincadeiras com ele e minhas bonecas surgiram das múltiplas ideias que ele despertava em mim.Tardes deliciosas, com risos e conversas. Somente eu, minhas bonecas e o meu fogãozinho.



4 comentários:

  1. oi lindinha.Seu texto me levou para um passado loooooooooooooooooonge, quando eu disputava com minhas irmãs as bocas do fogãozinho tão pequeno e eu acabava sempre com o forninho.Só fazia bolo.Acho que é por isso que hoje sou boleira kkkkkkk.Muito gostoso o que você escreve.Bjos, não some mais.
    carolina_oliveira20012@yahoo.com.br

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    1. Carol querida,suas qualidades de boleira são indescutiveis,amop seus bolos e doces,salgados,tudo o que vc fáz tem gosto de quero mais.Ainda bem que só sobrou o forno,caso contrário poderíamos ter perdido uma boleira e tanto.Mesmo com o gogãozinho todo pra mim, não deu em nada....passo longe e só cozinho quando nescessário..rsrsrsr.Um abraço para vc e para op Denis.

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  2. Também ganhei um fogão de brinquedo.Tinha quatro bocas e um forno de mentirinha que não abria.Ganhei no natal e durou minha vida toda.As panelinhas eram de aluminio,pequenas demais para meus dedões kakakakakaka,Usava bolinhas de gude para fingir que eram bolinhos e rodas de carro para brincar de bife.Oh imaginação heim?
    Adorei voltar ao passado.Te vejo.bjosssssss

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    1. hahahahaha,rodinhas como bife...quanta imaginação,pena não termos tido a chance de brincarmos juntas,ia adorar experimentar seus bolinhos de gude rsrsrsrsr.obrigada pelo comentário amiga.Mil beijokas para todos

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