sexta-feira, 1 de setembro de 2017

MULHERES: Juliana










Juliana recebeu do seu amigo um folhetim, que continha a foto de dois jovens namorados e  uma pequena mensagem dela para ele no seu aniversário:" Nunca houve nem existirá ninguém no mundo que ame você como eu amo".
Seria lindo se aquele panfleto não fosse o anuncio da missa de um mês do próprio casal, impresso em papel.
Tinham sido atingidos por um trem um mês antes do casamento e morrido dentro do carro.
A moça  nunca mais foi a mesma. Não conseguia se desligar daquele papel fúnebre e levava-o durante todo seu dia para poder fitá-lo.
Olhava e lamentava o ocorrido.
Sofria e se colocava no lugar deles.
Chorava sem ao menos tê-los conhecidos.
Passaram os dias e ela sempre segurando e levando aquela noticia triste.
Combinou com as amigas de irem ao seu apartamento na praia por um final de semana, para aliviar a alma.
Contou a história do casal para todas as outras três e colocou a nota fúnebre de baixo do seu travesseiro.
Estavam dormindo em dois beliches. 
Juju dormia na parte superior de frente para a porta do quarto.
Num determinado momento, se viu sentada na cama e na sombra da porta aberta, entre o batente, viu o contorno em negro de um homem observando-a parado. No próximo momento, sentiu seu olhar sem ver seu rosto e a sua aproximação lenta a subir os degraus do beliche. Ajoelhou-se sobre sua cama e veio ao seu encontro engatinhando.
Juliana perguntava angustiada quem era ele e o que  queria e pedia que se afastasse. Em vão!
Quando estava prestes a ser tocada, soltou um grito de terror do fundo do seu cerne e assim ficou até que suas amigas que lhe faziam companhia ascendessem a luz do quarto e a socorressem.
A foto estava bem lá, de baixo do seu travesseiro, onde lhe pareceu que o personagem queria alcançar.   Era como se quisesse que ela parasse, deixasse-os em paz seguirem seus caminhos. 
Na manhã seguinte se despediu daquele que fora seu diário, terço, mantra por mais de um mês e rasgando-o jogou fora e fez de tudo para esquecer.
Sentiu uma paz... Voltou a sorrir.





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