sexta-feira, 3 de outubro de 2014

A moça solitária





De canto, alto, escuro, emudecido, esse móvel tão antigo está sonolento no meu quarto O ranger das portas fere o silencio habitual e chama atenção para o que tem lá dentro.
Vestidos que já usei por anos, os que nunca tive coragem de usar,aqueles que fui obrigada a vestir,aqueles que sonho poder usar.
Um colorido pálido, de cores mortas, sem atrativos visuais.
Caixas floridas, listradas, empapeladas, pintadas, guardam tesouros de vida. Os primeiros de tudo estão lá dentro.
Sapatos envelhecidos pelo tempo,novos,exóticos, dividem espaços com meus chinelos de plumas.
Gavetas com pijamas, lingerie, meias sem pares, cintos e lenços se amontoam no canto esquerdo da porta principal.
Mas lá dentro mora também meus sonhos e, sempre que abro  essas portas pesadas,sinto sair  do fundo, dos cantos escondidos,uma  nuvem de esperança.
Olho para tudo, deixo-me devanear por momentos e por final, retiro de lá meu pijama.
Me encolho naquela cama solitária na expectativa de num dia próximo, quem sabe amanhã, tirar de lá aquele vestido que tanto sonho usar  e finalmente mudar por completo todas as coisas que guardo naquele armário pesado e triste.



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