terça-feira, 21 de setembro de 2010

Quem foi?

 
 
  Não tínhamos dinheiro para comprar lanches na cantina da escola. Como acondicionar um sanduiche no meio dos meus materiais sem que ninguém o visse?
A idéia foi colocar dentro do blusão escolar e depois debaixo da cadeira junto com os livros e cadernos.E assim Luiza e eu resolvemos nosso pequeno problema de timidez.
Certo dia, famintas, mal esperamos o sinal bater, abaixamos atrás das cadeiras para pegar nosso pãozinho, mas eles não estavam lá. Tiramos todos os livros e cadernos e nada da merenda.
Intrigadas com o desaparecimento do nosso alimento e desesperadas para encontrá-lo,vimos que duas amigas nossas, Vera e Sueli estavam rindo pra valer no fundo da sala, e suas bocas estavam cheias. Cheias do nosso pão com queijo!
Tive que me controlar para não me atracar ao pescoço delas, que não paravam de dar risadas e apontar para nossas caras.
Naquele dia fiquei estranhamente sem humor, quieta e FAMINTA e elas bem humoradas,brincalhonas e completamente SATISFEITAS.
Disseram que tinham esquecido seus lanches em casa, estavam com fome, decidiram que comeriam nossos sanduiches e pronto.
Engoli a seco porque quanto mais brava ficava, mais elas riam de mim. 
Depois do triste episódio, observávamos seus sanduiches escondidos entre os livros, mas não tocávamos neles nem no assunto que se deu por esquecido.
Num dia, onde as aulas seriam mais longas e, sabendo com certeza que as merendas seriam mais volumosas do que nos outros dias e a fome também, marcamos para ir à forra (heheheheheh).
Sentamos nas cadeiras do fundo e de lá tínhamos a visão necessária para planejar nosso ataque. Era até lamentável as ver rindo e conversando sem que suspeitassem do que faríamos.
Mais corajosa, fui atrás das cadeiras delas e com uma voracidade de leão, peguei os dois supras sanduiches e escondi no blusão.
Luiza e eu riamos tanto, que mal conseguíamos engolir todos aqueles prazerosos pedaços de pães.
Não deixamos nada, nem migalhas.
Na hora da saída para o intervalo recreativo, vimos as duas procurando seus lanches tal como uma semana antes Luiza e eu havíamos feito, e sentamos de tanto rir.
Quando elas nos viram, entenderam o recado. Ficaram tão mais bravas do que nós, tão mais briguentas e não conseguiram se conter.
Vera gritou: ”Vocês não sabem nem criar uma brincadeira , precisam copiar a dos outros, vocês são sem graça, bobonas eu odeio vocês”. E partiram sobre nós.
Luiza e eu corremos para o banheiro e ficamos por lá até a hora da entrada, e amparadas por outras colegas que aprovaram nossa parcial vingança, chegamos escoltadas.
Dia seguinte, nós quatro com medo de que alguém roubasse nossos tesouros comestíveis , decidimos coisas diferentes:
Sueli não levou nada para comer; Luiza colocou muita pimenta no seu bolinho de queijo e os deixou em pose de roubo, queria rir de uma possível cilada; Vera passou a comprar batatinhas fritas na lanchonete da escola; eu, dura e sempre com fome, mantinha a minha merenda quentinha entre meus joelhos fechados.
Finalmente fizemos um trato. Ninguém comeria mais o lanche de ninguém.
 Todas aceitaram e prometeram respeitar o combinado.
 O fato, é que depois de apenas alguns dias, o sanduiche da Luiza desapareceu. Ninguém se manifestou e a confusão se fez outra vez.
Na sala começaram a sumir lanches, depois foi indo para outras salas até se tornar uma epidemia em quase toda a escola, que só terminou com uma promessa do diretor de suspender os alunos responsáveis pelo acontecido, por três dias.
E assim foi a trajetória dessa história do ginásio Nunca descobrimos quem foi o vilão
Eu digo que foi a Sueli, mas ela acha que fui eu. A Luiza também acha que fui eu, até a Vera concorda com isso. Será?
Bons tempos não?

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