sábado, 7 de maio de 2011

Os sapatos



Ele tinha acabado de partir. O seu cheiro ainda estava no ar, suas coisas espalhadas pela casa, sua cama desarrumada pela última noite de repouso, suas roupas molhadas de suor jogadas num canto do quarto.
A procura e a espera pela volta era inevitável.O coração batia mais forte, a respiração ofegava e as lágrimas começavam a despontar.
No entanto, o portão não rangia, a chave da porta continuava intacta, o relógio tiquetaqueava e o silêncio imperava na casa.
Os dias foram acontecendo.
A cama arrumada, as roupas lavadas e o tempo que serena as lembranças, foi construindo uma nova silhueta para se contemplar o dia.
Como encarar o mesmo cenário, a mesma peça? Como olhar para os atores e dizer suas falas, expressar os sentimentos, representar um ato se o protagonista saiu de cena?
Um passo de cada vez, um dia depois do outro e tenta-se levantar o mundo pela última vez.
Até que num dia ensolarado, onde a saudade já se preparando para adormecer no regaço,é sacudida por um lapso da vida.
Um carro estaciona ao meio fio da calçada. Dois homens descem com um pacote nas mãos e como se chamassem alguém, pronunciam o nome proibido.
A mulher trêmula aparece na porta e com o coração agitado, pergunta o que querem.
-“Um par de sapatos. Um par de sapatos encomendado no mês passado que acabou de chegar. Viemos entregar”.
E ela olhou para aqueles calçados como se fossem seu próprio filho. Agarrou-os contra o peito e em soluços colocou para fora todas as lágrimas armazenadas naqueles longos dias.
O seu menino que era moço, já tinha outro lugar como destino. Não precisaria mais deles.
Depois de fitá-los como se tivessem vida, devolveu-os aos senhores e pela primeira vez,teve a percepção de que tudo aquilo seria para sempre.


4 comentários:

  1. Sem qualquer palavra. Só resta lembrar, aguardar, paciência... É maninho, que falta você nos faz. Sei que me ajudou naquele dia, só você poderia me inspirar. Um brinde a você cara!!! Um brinde a nós. Um dia bom, não perfeito, mas ensolarado para aquecer a nossa face tomada pelas lagrimas de saudades, e pelas risadas que disfarçam a melancolia. Eu choro cabisbaixo, mas logo sinto o calor vindo do Sol, que dá o ânimo necessário para tomar em meus ombros todas as mães que por algum motivo inerente a nossa condição mortal tenham colocado um sapato no armário para sempre. Ainda bem.... Um "para sempre" finito. Até logo.

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  2. Que conto lindo... eu lembrei de duas coisas... dos sapatos do meu pai que ficaram por um tempo me assombrando na casa da minha mãe.

    Até que conseguir fazer ela doar, contra a vontade dela naquela época...até uns anos atrás ela ainda tinha as roupas dele no guarda roupa, mesmo depois de 16 anos.

    Amiga eu passei um tempo fora da net nesse fim de semana...essasas datas me andam desanimando, rss e não vi seu carinhoso recado! obrigada!

    Vc que é uma super mãe como poucas, soube descrever bem no seu conto o ninho vazio...e o seguir em frente.
    Admiro demais vc por isso e és minha referência na vida.

    Que vc tenha tido ao lado dos seus filhos um maravilhoso dia como vc merece, ao lado de seus netos e suas norinhas mamães tb!

    Bjooo enormeeeee, vou te ligar amanhã!

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  3. vir aqui e sempre bom.. obrigada pelo carinho la no meu canto..eu estava sem tempo de vir aqui...
    mas essa historia e ótima, lembra na mudanças definitivas q a gente passa na vida
    bjaum e boa semana

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  4. meninas...obrigada pelo comentario..agradeço a participação.....gosto de receber vcs e também gosto muito de visitar os blogs que escrevem...nos encontramos nas próximas paginas rsrsrrs beijokas

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