domingo, 7 de fevereiro de 2010

Estávamos em férias escolares. Resolvi que passar alguns dias na praia com toda garotada poderia ser algo inesquecível.
Combinei com minha cunhada Junia, que no dia seguinte sairíamos bem cedo rumo à praia do Rio de Janeiro e ficaríamos lá com as crianças até que nossos maridos fossem nos encontrar.
A criançada ficou eufórica, feliz, animada e cada um arrumou sua mala com todo material de praia que pudessem levar na maleta.
Ninguém conseguiu pregar os olhos de tanta alegria e ansiedade, foi uma noite cheia de preparativos e muito trabalho.
Nossa turma era formada por nove crianças: três sobrinhos e meus seis filhos.
Ao amanhecer, estávamos todos prontos como havíamos combinado. Colocamos as malas na Kombi, espalhamos as crianças nos bancos, contamos um por um e confiantes em dias maravilhosos, começamos nossa viagem pela estrada.
Nove crianças dentro de uma perua por tanto tempo é algo muito difícil, porque os desejos delas variam em ir ao banheiro, sede, fome, enjôo, cansaço, briga por mais espaço, lugar, sono enfim tudo o que poderia deixar um adulto terrivelmente louco.
Decidi que contar uma historia enquanto dirigia, poderia acalmar os ânimos de todos e ganharíamos tempo na estrada.
Escolhi uma das minhas favoritas. O soldadinho de chumbo.
Comecei a falar dar ênfase na narração, e o silencio tomou conta daquela perua que estava prestes a explodir.
Fiquei empolgada com o êxito da idéia e fui contando nos mínimos detalhes todos os acontecimentos dessa aventura.
Só não contava que me emocionaria ao contar o final da história, que saiu no meio de soluços e muitas lagrimas. Tive que parar o carro no acostamento e deixei toda aquela emoção sair de mim através de um choro compulsivo.
Ninguém entendeu nada. A criançada não sabia o que fazer. Mas deu certo, ninguém mais reclamou a viagem toda, seguimos calados, sem brigas o caminho todo, e eles ainda me olhavam todo o tempo para verificar se eu estava bem.
Depois de várias paradas nos restaurantes e banheiros da estrada, chegamos ao nosso destino a salvo e com muita vontade de começar a nos divertir.
Cada um arrumou suas roupas e objetos na casa, suas camas e fomos almoçar.
Na praia parecíamos uma escolinha, com um bando de crianças com idades aproximadas, chamávamos a atenção da meninada que estava a nossa volta, e em pouco tempo, ela também já se encontrava agregada a nós.
Era tal de cavar buracos, jogar areia, pegar conchinha, que Nós duas não tínhamos tempo para tomar sol.
Quando decidiam ir para a água, era um temor. Ficava contando as cabecinhas deles para não perder ninguém. E começava no um ,dois três... nove e então enquanto eles estivessem na água, começava tudo de novo.
Numa dessas contagens, cheguei somente até oito, não sabia quem era o perdido, mas alguém não estava lá. Não esperei a segunda contagem, corri para o mar e vi que meu sobrinho estava se afogando. Puxei-o pelos cabelos e consegui trazê-lo para a praia. Tremula e apavorada, coloquei todos de volta no carro e ficamos em casa por uns dias.
Era uma tarde deliciosa, e todos estavam com vontade de ir ao shopping passear. O dinheiro já estava curto, porque alimentar aquele bando de pardais famintos vinte quatro horas por dia não era fácil, mas concordamos em não gastar nada, só nos distrairmos no parque interno.
Não se pode levar um dialogo muito a serio quando se trata de crianças e sorvete. Assim que viram o carrinho, começaram a salivar.
Contando todas as nossas economias juntas o que não era grande coisa, chegamos a conclusão que estávamos certas, não teríamos dinheiro para tal. Mas observando bem o cartaz do carrinho de sorvete, encontramos a solução. O sorvete de limão estava em promoção, custava à metade dos outros.
Chamei a criançada e disse: só podemos comprar sorvete de limão. Vocês aceitam?Foi o inicio de uma convulsão.
Entre os sabores de chocolate e coco, não havia espaço para o de limão, e convencer a turminha foi um dialogo quase em vão. Mas acho que fui tão convincente que um garotinho ao lado começou a chorar e perguntou para sua mãe se ele também teria que tomar sorvete de limão, ao que ela carinhosamente disse que não, que poderia escolher o sabor que quisesse e logo me dirigiu um olhar frio e selvagem como acusação de eu estar sendo um ditador. Pobre de mim que só estava querendo encontrar um jeito de satisfazer as crianças.
No final, foi distribuído o tal de sorvete de limão, que apreciado por todos, que saciados e refrescados puderam continuar com o passeio.
Dia seguinte, as crianças queriam comer bolo. Nós um dia antes estávamos à zero, e não tínhamos dinheiro para nenhuma despesa a mais, visto que nossos maridos não puderam estar presentes como planejado e trazido mais dinheiro. Vasculhamos os armários e tínhamos um punhado de farinha, chocolate, leite fermento, mas nenhum ovo. Com esses parcos ingredientes, fizemos uma mistura açucarada, colocamos na forma e assamos. Depois de trinta minutos, o cheirinho indicava que o produto da nossa experiência já estava pronto para o segundo passo. Comer.
Colocamos o bolo na mesa, mas o que parecia uma massa firme, nada mais era do que pó de chocolate. Sem nenhuma consistência, comemos quase a colheradas.
Junia, minha cunhada e eu, passamos quinze dias entretendo essas crianças com tão pouco. Mas para elas isso era tanto, porque não paravam de rir, cantar e brincar. Cada dia era cheio de alegria e muita bagunça.
E no final quando nossos maridos chegaram, fizemos um churrasco e pudemos levar as crianças aos lugares que eles queriam estar e degustarem todos os sorvetes que tinham vontade.

2 comentários:

  1. Dei uma passada nessa tarde sossegada próxima do carnaval, e aproveitei para me informar e me atualizar nesse blog maravilhoso. Não sei o que comentar, mas vc sabe o quanto gostávamos dessas loucuras de verão. Ainda hoje estava pensando nos bons tempos de quando servi como missionário, e me veio à mente uma música acho que do J Quest: "que tempo bom que não volta nunca mais". Agora, a mesma música me veio à mente enquanto eu lia a história acima. O estranho, é que lembrando detalhes da missão, vejo que foi um tempo extremamente difícil de viver o dia a dia, mas o passar dos anos, essa experiência me traz única e exclusivamente boas lembranças. Diferente da história acima, que além de ter sido um tempo excelente no dia a dia, me traz também apenas boas memórias. O que acontece é que sendo tempos bons ou difíceis que vivemos, e se soubermos aprender com tudo, o passar dos tempos, todo o passado será de bom grado.
    Tia, um grande beijo. E até breve. Vc precisa ver o vampirinho que o Dante se tornou.

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  2. Brunetto querido.....imagina vc então a saudades que tenho ao reler as histórias e ver vcs agora casados e com filhos,parece que tiraram de mim pedaços e doi muito......a saudes é dura porem mostra que tivemos tantos momentos bons,como vc disse, até os mais difíceis depois de passar,se tornam bons(quase todos).Amo vcs e todas as recordações que tenho comigo....e passamos agora a escrever novas histórias, a do Dante o vampirinho, a Livia,Carolina,julia,PAtrick e laurinha....e eles continuam chegando para ocuparem seus lugares na nossa história....beijokas querido e amei seu recadinho

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