quarta-feira, 8 de setembro de 2010

uma profissão para Ela



Ao me casar, o juiz perguntou qual a minha profissão, e algum apressado no local foi gritando “DONA DE CASA”.
A partir dessa data, tudo ficou cinza na minha vida. O colorido do arco-íris sumiu, o sol se escondeu e as nuvens começaram a explodir numa chuva tempestuosa e agressiva. Exagero?Quase.
Queria um titulo. Não era exigente, poderia ser qualquer profissão que me lançasse para uma grande produção e progresso.
Atirei-me em cursos profissionalizantes, tentando encontrar o que me tiraria do marasmo do meu cargo natural e indesejável.
Sempre acreditei que todos nós somos excelentes em alguma coisa, mas a vida é muito curta para que tenhamos tempo de descobrir qual é nossa excelência, ou mudarmos o rumo da nossa escolha a tempo de criarmos uma nova oportunidade.
Muitos morrem tentando, outros a encontram ainda jovens, mas não era o meu caso. Parecia que minha vocação estava se escondendo de mim.
Percebi que meu QI era razoável. Um esforço maior para conquistar minha meta seria indispensável.
Precisava encontrar um método de desenvolver os meus 90% do cérebro que estavam estocados do meu lado esquerdo sem nada articular,e ativá-los para me tornar uma filósofa,arquiteta, secretária,vendedora,qualquer coisa que me tirasse a tarja ”DO LAR”e mostrasse a disposição natural do meu espírito.
Finalmente fui participar de uma competição de teclado com minha escola de música, e seria reconhecida como uma profissional, algo que me orgulharia muito.
Cada escola era chamada pelo seu representante. Senhor Fulano de tal, professor, pós graduado em musicoterapia, com curso no exterior de medicina, doutorado ,etc. E assim, sucessivamente, eram chamados um a um,enfatizando suas qualidades detalhadamente.
Chegou minha vez. Não agüentava de alegria até que a apresentadora em alta voz chamou: “Surson e Rusty,(nome da escola) representada pela dona de casa Eva Giusti, terá como participante o aluno Rodrigo que irá tocar Flash Dance”.
Daí, percebi que uma dona de casa sempre será reconhecida pelas suas habilidades na cozinha e na limpeza da casa e por mais que eu tivesse tentando não sairia disso.
Meus presentes eram: batedeira, pano de pratos, xícaras, panelas, tudo que demonstrasse o quanto eu era zelosa pela minha exclusiva devoção ao lar.
Fui me tornando tão feroz sobre esse titulo que poderia me atracar com a primeira pessoa que colocasse naquele espaço em branco reservado para profissão, o titulo “DO LAR”.
Não desisti. Quando parecia que meu horizonte tinha se fechado e que na minha lápide o epitáfio seria, “AQUI JAZ UMA DONA DE CASA FELIZ”, surgiu na minha cidade uma Faculdade.
A porta, o inicio, o caminho, o sonho.
Mergulhei com escafandro, pronta para ficar por ali e trabalhar duro.
Foram os três anos mais divertidos da minha vida.
Aprendi o que precisava para me libertar, para me sentir participante do mundo.
Criei, construí ,me envolvi,cresci e dei tanto de mim!
Fiz amizades, conheci novos rumos e possibilidades,viajei ,saí do meu mundo,ri,chorei e fui muito feliz.
Aos 50 anos, vovó e ainda uma aprendiz da vida, tinha chegado minha vez. Não deixei passar, agarrei como a uma mão que lhe é oferecida diante de um abismo iminente.
Conquistei minha profissão, que tem um sabor doce . Não consigo deixar de sorrir ao pronunciá-la. ”PEDAGOGA”.

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