tempos felizes

Não consigo entender o grau de infantilidade que conservava aos 14 anos.
Meninas nessa faixa etária já eram conscientes da sua juventude.Usavam os cabelos soltos,saias curtas,meias dobradas até os tornozelos,raspavam as pernas,namoravam e falavam de sexo.

Meu primeiro dia de aula, escola nova , não conhecia ninguém. Precisava impressionar os colegas para ser aceita e pertencer a um grupo.

Mas eu tinha parado no tempo. Não sei a razão e procuro por ela até hoje.

Quando me apresentei à classe, foi um desconforto geral.

Uma jovem recém chegada, usando uma saia abaixo dos joelhos ,que cobria o inicio das meias ¾,os cabelos presos em um enorme rabo de cavalo,adornado com um laço branco(nem ursinho de pelúcia usava um desses)e o detalhe ficou para a lancheira azul que cruzava seu peito com uma tira de plástico branca combinando perfeita mente com a mala de mão marrom e cheia de decalques de bichinhos,ambos dos anos 60,uma década atrás.
Um elo perdido.

As partes hilárias que me compunham eram tantas, que dei motivo para conversas e risadas por todo o período escolar do dia.

O engraçado é que nada me atingia. Gostava da minha malinha e lancheira . Não me importava o que diziam(quanta personalidade!) .

O fato é que, depois de muitos risos, acabei sendo aceita e amada por muitos na sala ,que  passaram a não se incomodar com meu estilo fora de série .

Com o tempo fui aprendendo e absorvendo um novo comportamento e uma forma diferente de vestir.As saias foram dobradas na cintura para encurtá-las, as meias abaixadas,os cabelos soltos e um  olhar travesso surgiu no meu rosto.Aquele voltado aos meninos.

Minha lancheira azul foi doada à irmã de uma amiga querida, que aos oito anos se achava madura demais para usá-la, mas aceitou para brincar de casinha.

Por muitos anos pensei nesse episódio como uma época de puro açúcar em minha vida.