Albergo um ser .

Quando estou sozinha, solto um ser maluco que se esconde dentro de mim.

 Ele não tem noção do grotesco ,burlesco,ou seja não está nem aí.Corre logo para o espelho e lá exibe sua performance sem nenhum acanhamento.

Às vezes se abre como uma balzaquiana metida a glamour e começa a fantasiar. 

Pinto a cara, visto um vestido, faço bocas e danço freneticamente como se estivesse numa balada e o foco principal são os meus passos. Prá lá e pra cá. Sou capaz de improvisar as danças mais loucas. Sou um arraso.

Em outros momentos sou uma jornalista e fico entrevistando a minha imagem com assuntos tão sérios que faria o mais eficaz dos âncoras se mortificar.

Atuo em comerciais onde sou sempre a protagonista, aquela que termina a cena com um sorriso no rosto, onde o fade out é dado.

O que esse ser mais gosta quando esta fora de mim é de desfilar. Daí, sai em passarelas imaginárias que ocupa um quadrado do piso do banheiro, mas que não tem fim para sua capacidade inventiva. Faço combinações de roupas, experimento sapatos, cintos e bolsas, improviso novas combinações, crio modelos e caras inusitadas até para um álien.

Quando cansa do faz de conta, deixa rapidamente a cena, e eu sem graça fico a me olhar e a perguntar: Como fui capaz?

Brincadeiras, sonhos e delírios de uma mulher nos cinquenta? Ou apenas um pedacinho da criança que cada um asila dentro de si?

Seja o que for ele é educado. Tem hora e local para se mostrar. E o mais importante:

Nunca estou acompanhada.