segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Ela


 Decidiu acordar naquele dia.
Abriu a gaveta e lá colocou todos os pontos finais que pontuavam sua vida.
Procurou pelos de interrogação que tinham sido esquecidos entre os seus papéis amassados.
Colocou muitas vírgulas em seus planos que pareciam infindáveis e os numerou conforme seus desejos.
O horizonte que ela dobrou e anulou porque se achava velha demais, foi desdobrado com cuidado para não deixar marcas nem rasgos.
Desceu as escadas sem olhar os degraus, e como rainha se fez reverenciar pelo amanhecer.
O sol aqueceu as paisagens e deu ao tempo sua transcendência divina.
A água não ousou desfigurar-se de sua forma condensada, e permaneceu estável no céu.
Os pássaros combinaram um novo canto, e gorjearam para enfeitiçar a cidade.
E a moça que esquecera sua juventude, retomava-a com vivacidade e atrevimento.
Destravou as batidas do seu coração.
Como uma menina, olhou para onde não arriscava e enrubesceu.
Deixou seus apegos, e num pressagio desesperançoso,buscou pelo seu velho amado.
Visitou lugares longínquos, perdeu-se nas distâncias entre seus mundos,gritou seu nome aos ventos e esperou com alento seus temores dissiparem
O tempo passou, a água em forma liquida despencou do firmamento, as aves perderam seus cantos, o calor ficou envolto pelo gelo e seu sorriso viçoso, fechou-se num olhar ínfimo.
Num miserável arbítrio, dobrou o papel maculado de lágrimas e esperança, sem se preocupar com vestígios que poderiam marcá-lo.Colocou-o devolta na gaveta, porque tinha a certeza que  não  a abriria mais.

Um comentário:

  1. Oi, Eva.
    Adorei seus textos, seu boteco é muito aconchegante!

    Quanto aos gifs, pode usar, sim.
    Beijos

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