meus dias com meus filhos

Passei minha vida cercada por crianças, enrolada com mamadeiras e fraldas de pano.
Ao entardecer, eu preparava seis mamadeiras de leite com frutas, colocava numa bandeja de inox e levava para o quarto ou quintal, onde as crianças estavam brincando. Eles corriam para alcançar as mamadeiras como se tivesse uma a menos.Alguns deitavam no chão, outros na cama, mas todos colocavam os pezinhos para cima e ficavam olhando para o além, mexendo nos cabelos e degustando o que eles mais gostavam.

Cada dia acontecia algo diferente, era uma expectativa uma aventura.

Costumava viajar sozinha com os meus filhos para o Rio de janeiro onde tínhamos uma casinha para passeio. Tirava um dos bancos traseiros   da kombi para que sobrasse mais espaço para eles ,forrava o chão com edredom e travesseiros,colocava todos eles de pijamas e dava para cada um uma mamadeira cheinha de mingau , e a viagem era um sucesso.

Ninguém acordava durante todo o trajeto de quase cinco horas.

Quando olhava para trás para ver se tudo estava bem, contemplava uma cena engraçada, todos dormindo jogados um sobre os outros, os pés na cabeça,com as mamadeiras vazias ao lado e os pequenos com seus brinquedos favoritos abraçados.
Não tinha muito tempo para ficar observando, a estrada era longa e a noite já se fazia madrugada e precisava chegar antes que acordassem.
Nessas minhas viagens loucas, sempre tudo correu bem, mas o perigo sempre apareceu enfeitado e quase nunca percebi o que poderia ter acontecido
Em uma tarde, eu estava indo para São Paulo com meus filhos e gravida de mais um, quando exatamente no meio do caminho, meu carro quebrou. Não existia celular na época e não tinha como pedir socorro. A estrada era muito movimentada e perigosa para sair com tantas crianças soltas. Tentei por um tempo pedir ajuda aos carros que passavam, mas eles buzinavam, gritavam, acenavam, riam, mas não paravam. Depois de várias tentativas sem sucesso, decidi sair à procura de um posto policial que eu tinha visto um pouco antes do carro quebrar. Como eu tinha muitas fraldas de pano, amarrei as crianças  pelas mãos de modo que ficassem ligadas umas nas outras e assim poderíamos seguir pela estrada sem nos perdermos ou sairmos do acostamento.
Hoje fico imaginando as pessoas que viram uma mulher com um monte de crianças amarradas pelas mãos com fraldas, sendo puxadas como um trenzinho pela mãe, no meio fio de uma estrada interestadual. A cena devia ser no mínimo interessante porque um caminhoneiro parou, e me ajudou até que os policiais viessem ao meu encontro e nos levassem ao posto mais próximo até que chegasse ajuda. Ficamos eu e meus filhos até as quatro da manhã esperando essa ajuda que finalmente veio e nos trouxe de volta a nossa casa. Quanta coisa poderia ter acontecido, felizmente foi apenas uma aventura na estrada que acabou bem.Tivemos outras aventuras mas fica para uma outra vez...beijokas