quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Nas nuvens



Hibernei em alguma parte do planeta. Estava no meu Xangrila, ou em alguma nuvem que pairava sobre outras nuvens enquanto o mundo acontecia.
Meu planeta, azul e rosa, era feito de: crianças, visitar meus pais, cuidar do marido, e ir à igreja.
Adhemar de Barros, Figueiredo, Tancredo, Maluf e tantos outros, eram contos, fábulas que não queria ler.
As sextas-feiras, quando voltava do jantar de um restaurante ou bar qualquer,passava nas bancas de jornal que ficavam funcionando até altas horas da manhã, e escolhia revistas que realmente compunham o meu gênero literário. Bolinha e Luluzinha,Pato Donald,Tio Patinhas,Fantasminha e mais tarde a Mônica.
Fui uma aluna que resolveu repetir quatro anos seguidos o primeiro colegial, porque preferia andar descalça nas ruas no período que deveria estar trancada numa sala de aula, brincar de elástico com os garotos rebeldes, acertar giz nos buracos do lustres e cabular.
Nunca fui rica, mas sempre estava feliz com o pouco que tinha.Fazia parte do meu universo, que todos em minha volta estivessem felizes.Isso tornava meu astro mais azul.
Acho que fui uma espécie de Eva no Paraíso, que por descuido ,comeu da maçã e acordou para o mundo.
Sinto ainda a força do arremesso que me impeliu para fora. Depois de rolar por terra, levantar e perceber que o mundo era marrom, comecei a construir uma nova visão do que me cercava..
Precisava de palavras novas para nomear todos aqueles sentimentos que me fatigavam o corpo e a alma. Palavras novas para novos sentimentos. (Ainda procuro por elas).
Não entendo no que a minha nova posição colaborou para o mundo.(nada)
Tentei entender de política. Busquei por leituras sem fim.
Militares da linha dura; a morte indefinida de Wladmir Herzog e Manuel Fiel Filho; o fiasco de Severino Cavalcante como presidente da câmara dos deputados; o assassinato de Chico Mendes: teoria Marxista, a teoria evolucionista de Charles Darwin;o macarthismo americano;nazismo e o fascismo versus comunismo; a guerra fria;eleições;parlamentares,etc...
Viajei e aculturei alguns costumes interessantes e ignorei a tantos outros.
Tudo só serviu para me mostrar que o mundo é dos poderosos e daqueles que são capazes de tudo para subir ao poder. Minha mente foi aberta, e vi o que realmente sucedia e não gostei.
Não fui nenhum dia mais feliz por todo esse conhecimento que adquiri.Ao contrário,me fez descrente, sofrida,magoada e revoltada .
Coloquei um ponto final nessa odisseia sem fim.Retomei o caminho que me fizera sempre feliz.
Voltei a procurar as revistas em quadrinhos, aquelas que a seu tempo, me levarão de volta para uma época de paz.
Ainda quero o bem dos que estão próximos. Ainda não quero mais nada além do que posso segurar com as mãos, ainda ando descalça, e só quero meu paraíso.
Alguém tem que ficar alienado e acreditar que tudo é azul, para poder distribuir um pouco de mágica, alegria e acreditar que coisas boas acontecem frequentemente e que a justiça é a lei maior.Afinal, o que seria do circo sem o palhaço?

2 comentários:

  1. Raul Seixas tem uma música que diz assim: "É pena eu não seru burro, não sofreria tanto". E tem ainda aquela outra que diz que a ignorância é fonte de felicidade.
    A gente precisa se desligar um pouco pq a realidade é muito dura. Eu concordo contigo.
    Precisamos nos fechar um pouco para nos proteger.

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  2. Ana...obrigada...foi esse o meu recado....

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