quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Na casa da Nina


Estávamos brincando nas ruas de terra antes do almoço, quando Nina me convidou para o seu aniversário que seria logo mais à tarde. Pediu silêncio porque só eu seria convidada.
Mantive o segredo e animada por ter sido escolhida, começava a sonhar com o bolo e doces que comeria ao entardecer.
Eram três e meia da tarde. Muito cedo para uma festa, mas sua mãe já queria cortar o bolo.
Nina morava com sua família num portão quase em frente de casa. Com o muro alto e uma imensa vegetação defronte, nunca tinha visto sua casa até então.
Entramos e descemos por um caminho estreito de terra, até chegarmos ao fundo do terreno.
Uma portinha de madeira de construção, protegia um barraco de dois cômodos onde moravam cinco crianças, os pais, a avó e dois primos.
Estava com nove anos, não entendia muito de pobreza, mas o que vi me embateu.
A mãe e a avó de Nina cortaram um bolo pequeno sem recheio e cobertura e colocaram uma fatia fina e porosa nas mãos de cada um dos presentes.
A caneca de alumínio era repartida entre as crianças,que se agitavam por um gole de chá morno.Queria uma caneca só para mim ,mas ninguém me ouviu e tive que repartir com os demais.
Quando Nina quis sair para o quintal para se despedir, ainda na minha inocência perguntei:
Quando vamos cantar parabéns e comer o bolo?
Ela me olhou estranhamente não entendendo aquela pergunta.
Voltei para casa perdida e contei o acontecido.
Esperava que meus pais comentassem algo contra a festa, que percebessem que eu passei vontade, que eu queria mais. Não disseram nada, apenas me explicaram que Nina tivera uma festa de aniversário e que lhe dariam os parabéns no dia seguinte.
Papai chegou aquela tarde com um pacote de presente e animada fui segurando com as duas mãos.Ele deixou que eu o pegasse e mandou que o levasse para Nina.Era o seu presente de aniversário.
Contrariada com sua decisão, fiquei emburrada, porque queria tudo para mim.
Nina e seus irmãos abriram o pacote com tamanha alegria que eu fiquei espantada e de acabrunhada, fui ficando feliz por ter proporcionado esse momento de alegria para ela.
Durantes muitos dias, Nina saiu daquele portão segurando o bebê que recebera dos meus pais.Cuidou dele com carinho e se tornaram inseparáveis.
Um dia, ela mudou sem falar nada. Uma charrete veio de mansinho, desmontou o barraco e colocou tão pouco sobre os cavalos. Foi embora com seu boneco, sua família, sua pobreza.
Aprendi tanto com meus pais, com Nina e sua humildade.
Se eu pudesse voltar, eu começaria a cantar parabéns naquela tarde e gritaria bem alto:
PRA NINA NADAAAAA.........................TUDO.

5 comentários:

  1. own.... ownnn... eva,vc é uma escritora!!

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  2. gostaria muito de ser,más já fico feliz como Contadora de histórias......rsrsrsr
    Obrigada Nina

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  3. Que história bonita...pra Nina nada.... e sim tudooo.... estou ainda pensando na minha infância...

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  4. Monica,obrigada pela visita e pelo comentário.A Nina foi umas das grande primeiras lições que tive sobre o respeito às diferenças.Hoje também me emociono ao lembrar da família humilde e das vontades que elas passaram.Abraços pra vc.

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