sábado, 31 de outubro de 2015

Muitos anos atrás









O que me faz  avelhantada, não é o fato de que quando criança a televisão só emitia figuras em branco e preto. Não é o lance de telefones domésticos serem raríssimos e você ter que esperar até anos por uma linha. Nem a passagem dos bondes pelos trilhos nas ruas.
Nos sábados pela manhã, deixávamos o feijão de molho na terrina de louça e minha mama e eu, descíamos a ladeira para comprar frango.
Chegávamos cedo na casa de Dona Paola,uma imigrante italiana que ganhava a vida depenando as coitadas das aves e as vendia.                                  
Ficava olhando toda aquela apresentação trágica e achava tão normal.
Primeiro, Dona Paula perguntava qual o frango desejado, minha mãe apontava um e lá ia ela apanhá-lo pelo pescoço, e assim que o segurasse,ela o quebrava.
Deixava que ele batesse as asas freneticamente por um tempo, e com os pés amarrados, os pendurava numa espécie de varal.Lá ficavam aguardando o próximo passo.
Eu ficava passando por baixo deles, vendo seus olhos fechados e ainda estrebuchando...Logo,ela os apanhava e os colocava num caldeirão de água fervente e cantando suas músicas,colocava-os sobre seu avental sujo de sangue e tirava com uma baita rapidez,todas as penas que os cobriam.Arrancava as vísceras fora e entregava-os aos seus compradores, ainda com pés e cabeças.
Voltávamos para casa e a mama, repartia  em pedaços pequenos e os fritava.
Não existia frango de última hora, ou você se preparava ou não comia.
E eu saia para brincar no quintal, descalça e contente esperando o alimento ficar pronto.
Se isso não for jurássico, não sei o que é.



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