sexta-feira, 28 de maio de 2010

Minha nonna querida


Morava no fundo do quintal, numa casinha de bonecas. Tinha um jardim enorme na frente, com frutas, plantas, uma figueira, um pé de café e uma videira que fazia sombra para nos abrigar nas festas e folguedos.
O casarão ficava na parte da frente do terreno, e meus bisas moravam lá.
Era uma casa cheia de mistérios, e muitas histórias que me faziam arrepiar.
Gostava de ficar inspecionando cada parte da casa a procura de tesouros.
Sou de um tempo intermediário que vai do período jurássico ao moderno, portanto participei de acontecimentos que me fascinaram.
Na casa da bisa, não tinha geladeira e ela mantinha a manteiga salgada dentro de uma tigela com água para não rançar. O fogão era de ferro, a lenha e precisava ser cutucado para aquecer e queimar. O lustre alto com uma cor de vela única, fazia o ambiente ficar melancólico e causar possíveis pesadelos. Na sala, os moveis eram pesados e escuros, o telefone preto com discagem lenta, a cristaleira com peças de porcelanas intocáveis, xícaras douradas e cadeiras rebuscadas. Um lugar não permitido para as crianças embora a porta estivesse sempre aberta.
Tinha um porão cheio de quinquilharias que nunca fora desbravado, mas sempre espionado de longe... Eram lá que os fantasmas habitavam.
O bisa Dante e a bisa Pia, sempre estavam na casa dando vida e proteção.
Ela costumava lavar a roupa no tanque e quarar numa bacia enorme com anil, e ali ficava por toda a manhã até o sol alvejar cada pedacinho e poder assim ser estendida em varais altos que precisavam se levantados com um cabo de madeira e secar ao sol
Como era gostoso andar entre aqueles panos brancos quase secos. O cheirinho de sabão, o movimento ao vento dava-me a ilusão de estar em qualquer lugar mágico. Minha mente voava e eu não pisava no chão...
Ela contava historias para dormir, me abraçava e dizia o quanto me amava.
Com ela aprendi a fazer sopa de alho, colocar vinho no brodo e a orar.
Era atrás dela que me escondia ou pedia socorro quando minha mãe queria me acertar com o chinelo, e também era ela que ficava desesperada me procurando pela casa e quintal quando subia na figueira e ficava escondida no telhado apreciando todo o pânico causado por minha ausência.
Coisas de muitos anos atrás.
Hoje, participo de uma vida totalmente tecnológica, onde tudo pode ser descartado e adquirido com facilidade. A manteiga na geladeira, o microondas para cozinhar, o celular digital, a máquina para lavar roupa, a de secar, o vídeo para contar histórias, mas nada que possa substituir o abraço e a proteção da minha querida bisa,muito menos o sentimento de amor que ela me proporcionou.



Eternamente grata bisa.

3 comentários:

  1. Vim tomar um cafezinho e desejar um bom domingo.
    :)

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  2. obrigada pela visita RO....da proxima vez, fica para uns biscoitinhos tambem rsrsrsrrs....bom final de semana para vc

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  3. Apesar das saudades,consegui dar boas risadas do conteúdo. Eu não saberia narrar com tanta fidelidade as "proezas" da adolecente que ganhei de presente do Criador. Essa eh minha filha EVA.Já o meu filho OTAVIANO não teve as mesmas oportunidades por ser mais monitorado pelo papa.Coisas da época! Mas como foram amados esses anjinhos! Agora são da mesma forma amados,sim, porem sem tantos cuidados.

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